2-O gosto pela aventura

08/08/2014 10:45

 Pela menção dos grupos interessados, podemos perceber que os impulsos para a
aventura marítima não eram apenas comerciais. Não é possível tentar entendê-la com os olhos
de hoje, e vale a pena, por isso, pensar um pouco no sentido da palavra aventura. Há cinco
séculos, estávamos muito distantes de um mundo inteiramente conhecido, fotografado por
satélites, oferecido ao desfrute por pacotes de turismo. Havia continentes mal ou inteiramente
desconhecidos, oceanos inteiros ainda não atravessados. As chamadas regiões ignotas
concentravam a imaginação dos povos europeus, que aí vislumbravam, conforme o caso,
reinos fantásticos, habitantes monstruosos, a sede do paraíso terrestre.
Por exemplo, Colombo pensava que, mais para o interior da terra por ele descoberta,
encontraria homens de um só olho e outros com focinho de cachorro. Ele dizia ter visto três
sereias pularem para fora do mar, decepcionando-se com seu rosto: não eram tão belas
quanto imaginara. Em uma de suas cartas, referia-se às pessoas que, na direção do poente,
nasciam com rabo.
Em 1487, quando deixaram Portugal encarregados de descobrir o caminho terrestre para
as Índias, Afonso de Paiva e Pero da Covilhã levavam instruções de Dom João II para localizar o
reino do Preste João. A lenda do Preste João, descendente dos Reis Magos e inimigo ferrenho
dos muçulmanos, fazia parte do imaginário europeu desde pelo menos meados do século XII.
Ela se construiu a partir de um dado real - a existência da Etiópia, no leste da África, onde vivia
uma população negra que adotara um ramo do cristianismo.
Não devemos tomar como fantasias desprezíveis, encobrindo a verdade representada
pelo interesse material, os sonhos associados à aventura marítima. Mas não há dúvida de que
o interesse material prevaleceu, sobretudo quando os contornos do mundo foram sendo cada
vez mais conhecidos e questões práticas de colonização entraram na ordem do dia.

 

Boris Fausto